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O simbolismo e a resistência no figurino de The Handmaid’s Tale

  • Foto do escritor: Mariana d'Abril
    Mariana d'Abril
  • 9 de abr.
  • 4 min de leitura

Atualizado: 22 de mai.

Aclamada por crítica e público, a produção coleciona prêmios e é considerada uma das mais impactantes da última década


Por Mariana d'Abril, Sessão das 4 — Bauru, São Paulo


Em um futuro distópico, onde a poluição do ar contribui para a infertilidade feminina em massa, um Estado teonômico cristão totalitário conhecido como República de Gilead assume o controle após derrubar o governo dos Estados Unidos. Baseada no romance homônimo de Margaret Atwood, publicado em 1985, a série The Handmaid’s Tale estreou em 2017 e chega ao fim em 4 de junho deste ano


Segundo estudo da revista The Lancet publicado em 2024, a Taxa de Fertilidade Total (TFT) global caiu de 4,8 filhos por mulher em 1950 para 2,2 em 2021. Os nascimentos diminuíram drasticamente, de 142 milhões em 2016 para 129 milhões em 2021. A projeção é de que essa taxa chegue a 1,6 até o ano de 2100.


Inspirada por esse cenário de crise na natalidade, The Handmaid’s Tale constrói uma narrativa que reflete temores contemporâneos sobre autoritarismo, controle dos corpos femininos e fundamentalismo religioso. Dentro desse universo, os figurinos assumem um papel central.


Em Gilead, a sociedade é estruturada por castas. As principais figuras abordadas nesta reportagem são as Aias, mulheres férteis, consideradas pecadoras, violentadas institucionalmente, atuando como barrigas de aluguel para as Esposas, mulheres inférteis pertencentes à elite. Já as Marthas ocupam o papel de servas domésticas e seguem uma obediência silenciosa. Antes da ascensão do regime, eram, em sua maioria, mulheres solteiras, devotas e tidas como inférteis.


Para a designer de moda Andressa Jurema, “as roupas das Aias, com aquele vestido vermelho fechado até o pescoço e o capuz branco que limita o campo de visão, dialogam diretamente com vestimentas usadas por mulheres em períodos retrógrados”.


Aias usam capelos que se assemelham aos utilizados em Portugal nos séculos XVII e XVIII
Aias usam capelos que se assemelham aos utilizados em Portugal nos séculos XVII e XVIII

Andressa conta que a paleta de cores é estratégica e que cumpre um papel essencial na representação da hierarquia. “As Aias, por exemplo, vestem vermelho, uma cor que simboliza tanto a fertilidade quanto o controle sobre seus corpos. Já as Esposas usam azul, remetendo à pureza e ao papel quase sagrado que ocupam. As Marthas, geralmente de verde-acinzentado, representam o trabalho e a função doméstica". 


A disposição das castas acompanha a ordem em que são abordadas no texto
A disposição das castas acompanha a ordem em que são abordadas no texto

"O figurino, portanto, traduz o sistema de castas visualmente, sem precisar de palavras. A cor, aqui, vira código, vira forma de controle, reforçando o papel social de cada mulher naquele regime opressor”, afirma.


Em 2018, argentinas protestaram em silêncio pelo direito ao aborto, vestidas como Aias diante do Parlamento
Em 2018, argentinas protestaram em silêncio pelo direito ao aborto, vestidas como Aias diante do Parlamento

Manifestantes usaram trajes inspirados em O Conto da Aia durante protesto no Dia Internacional da Mulher de 2024, em Londres
Manifestantes usaram trajes inspirados em O Conto da Aia durante protesto no Dia Internacional da Mulher de 2024, em Londres

Um levantamento, feito pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), aponta que a violência de gênero nos últimos doze meses atingiu o maior nível desde o início da série histórica, em 2016. Mesmo assim, 47,4% das mulheres que sofreram violência grave no último ano afirmam não ter tomado nenhuma atitude diante da agressão.


Com a ascensão da extrema-direita, a fã da série, Isadora d’Abril, afirma temer pelo futuro do feminismo e das conquistas já alcançadas. “A série mostra o quão necessária é a luta das mulheres pelos nossos direitos. É bom saber o quanto somos donas dos nossos corpos.”


Durante a posse de Donald Trump, no começo deste ano, sua filha Ivanka usou um conjunto verde com chapéu comparado ao visual de Serena Joy, personagem pertencente à casta de elite em The Handmaid’s Tale. Já Melania, a primeira-dama, chamou atenção por utilizar um chapéu que cobria os olhos, levantando debates sobre como a moda pode comunicar de forma não verbal os valores conservadores.


Ivanka e Melania Trump respectivamente da direita para a esquerda
Ivanka e Melania Trump respectivamente da direita para a esquerda

Marina Ferraz, especialista em Moda, Produto e Comunicação, analisou em conjunto com sua equipe, o simbolismo dessas vestimentas:


Audio cover

Instrumental: He Wants to See You - The Handmaid's Tale Original Soundtrack by Adam Taylor


O extremismo religioso dita as leis de Gilead
O extremismo religioso dita as leis de Gilead

Já Isadora, ao acompanhar a série, passou a considerar que mulheres que nascem em Estados não laicos acabam crescendo em uma cultura que tende a naturalizar a opressão de gênero. Quando há interferência religiosa, a promessa de “salvação” não apenas legitima essa opressão, como a perpetua através do medo da punição divina.


Bruna Andrade, também fã de The Handmaid's Tale, reforça: apesar de se tratar de uma distopia, fica cada vez mais evidente que, quanto mais a religião se mistura com a constituição de um país, mais a série deixa de parecer ficção.


A narrativa mostra que o problema não é a religião, e sim, o extremismo religioso e as segregações causadas por ele. Seja no ocidente ou oriente, quando a fé é usada para gerar medo e repressão, ela desvia os fiéis de seu objetivo.


Audio cover

Instrumental: He Wants to See You - The Handmaid's Tale Original Soundtrack by Adam Taylor



É possível acompanhar a série pelos streamings: Disney+, Amazon Prime, Globoplay e Paramount+.


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