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O samba e a MPB como símbolo de resistência

  • Foto do escritor: Ana Laura Padredi Bortoloto
    Ana Laura Padredi Bortoloto
  • 9 de mai.
  • 5 min de leitura

Os ritmos populares carregam a força de um povo que resiste com música e memória.

Por Ana Laura Padredi, Sessão das 4 — Bauru, São Paulo


A música dentro da sociedade vem como uma forma de expressar o que às vezes não pode ser dito. Momentos históricos como a ditadura militar e a segregação racial, refletem como a expressão cultura pode ser usada para resistir a normas impostas por governantes, ou uma maioria da sociedade. 


Gêneros musicais como o samba e a MPB, foram criados no Brasil e fazem parte da história do país. Ambas, cumprem um papel político, social e identitário, onde os artistas buscam lutar contra a opressão de forma artística, seguindo um senso de comunidade.  Para o músico Felipe Rosário, a música é uma forma de expressão artística que da voz para aqueles que precisam. “Ela dá visibilidade às questões vividas pelos artistas e comunidades, em suas distintas realidades, e traz à tona toda uma realidade cheia de contradições, violências, questões e injustiças sociais. Todo olhar diante da realidade traz um posicionamento. E esse posicionamento engajado é político”, afirma. 


 

Oh abre alas, que eu quero passar

Cena de Carnaval, Giandomenico Tiepolo (cerca de 1754-1755)
Cena de Carnaval, Giandomenico Tiepolo (cerca de 1754-1755)

Originalmente, o samba se deu pela mistura de ritmos africanos na Bahia no século 19, mas foi no Rio de Janeiro que o gênero se desenvolveu e fez mais sucesso. A cultura negra era malvista, por isso quem praticava essa forma de expressão, dançando ou cantando samba, podia ser preso.


Felipe comenta a realidade daquele periodo, “O samba nasceu nesse contexto de marginalização do povo negro, que criou o samba como forma mais que autêntica de identidade, diante uma música de um povo branco, colonizador, opressor, que não se identificavam com a realidade da música ouvida na época”, afirma. No início da década de 40, o samba passou a ser um símbolo nacional, durante o governo de Getúlio Vargas.


Na mistura do samba, da brasilidade e de muito glitter, temos o Carnaval, uma festa marcada por elementos culturais tradicionais do nosso país. A etimologia da palavra Carnaval, tem origem do latim “carnis levale”, que significa “retirar a carne”, se referindo ao jejum que se inicia com a Quaresma.


A tradição da festa foi introduzida durante a colonização dos portugueses, porém chegando aqui no Brasil, esse festejo se mesclou com influências africanas, se transformando em uma manifestação cultural de massa e se aproximando da comemoração que conhecemos hoje. Esse ano, mais de 53 milhões de pessoas foram para folia, tendo um aumento de 8% em relação a 2024.


Nunca não é carnaval


Desde de 2015, a Espetacular Charanga do França sai pelas ruas do bairro Santa Cecília, para comemorar o carnaval. O seu diferencial é ser um bloco sem trio elétrico, formado por uma banda de músicos, com instrumentos de sopro e percussão. Isso permite uma integração da multidão, onde os foliões cantam em coro as músicas tocadas. Esse ano o bloco teve cerca de 50 mil foliões.



O nome “Charanga” é um termo utilizado para denominar uma banda de músicos composta majoritariamente por instrumentos de sopro, sendo o caso do bloco criado por Thiago França, mineiro de 44 anos. Também tendo inspiração nas tradicionais fanfarras feitas para animar as torcidas de futebol.  


Para Thiago, saxofonista, compositor, arranjador e produtor, o Carnaval vai além da música, e também tem um papel de resistência dentro da sociedade. Confira a entrevista com o músico.


Audio cover
foto/reprodução: @nataliapretola

Ele traz outro exemplo de gênero musical que está diretamente ligado a questões sociais, o funk. Estulo músical que possui papel semelhante ao do samba, Felipe explica qual é esse papel.”O samba, as rodas, são práticas comunitárias, de comunidades que possuem acesso restrito ao lazer, e fazem nesses encontros seus momentos de descontração, arte e expressão, e fortalecem seus laços sociais, afetivos",afirma. Assim como o funk, comenta Thiago.  


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foto/reprodução: Sebastián Cauvet

Ela (música) vira instrumento quando a gente toma consciência do impacto que a gente causa no entorno, nos territórios que a gente ocupa.

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foto/reprodução: Sebastián Cauvet


foto/reprodução: Ana Laura Padredi foto/reprodução: Jorge Sato  foto/reprodução: Ana Laura Padredi


Ensaio da Charanga em Janeiro de 2025 no Mundo Pensante

Música é política!  


Na época da ditadura militar no Brasil, artistas como Caetano Veloso e Gilberto Gil  participaram do movimento artístico da Tropicália, durante os anos 1960. Eles empregaram a música como meio de resistência cultural e política, questionando as normas estabelecidas e desafiando o autoritarismo em vigor. 


A música popular brasileira (MPB), surgiu justamente nessa época, na década de 60, como uma sucessão da Bossa Nova. Tendo diversas influências musicais, como samba, forró,o jazz, a música erudita e o próprio movimento Tropicalista, que misturava elementos de rock, psicodelia e música tradicional brasileira . O músico Felipe, considera que a música teve um papel muito importante durante a ditadura. “A música teve um papel de resistência e posicionamento político. Principalmente fora do alcance da censura, que tinha braços muito grandes. Ela tinha esse papel de canal de expressão da resistência, resiliência e justiça social da maior parte da população que se viu oprimida, perseguida, vítima de várias violências, reprimida”, finaliza. 


A música dá voz a personagens que muitas vezes não teriam voz se não fosse por meio dela, e que se fazem ser ouvidos.

Chico Buarque foi um dos artistas que mais combateu a ditadura militar em suas canções. O cantor chegou a criar um heterônimo, o Julinho da Adelaide, para que pudesse ter mais liberdade para ir nas rodas de samba cariocas. Na sua música “Jorge Maravilha”, Chico conta a história de quando foi abordado por um funcionário da instituição para lhe pedir um autógrafo para sua filha. Porém, quando ele contou essa história para os jornais, disse que o autógrafo era para a filha do presidente Ernesto Geisel, chamada Amália, que havia declarado ser sua fã. Essa é uma das várias músicas do Chico que criticam a ditadura. 


Outro artista que também mostrou seu descontentamento com o cenário político da época é  Gilberto Gil. Ele e Caetano Veloso foram presos, depois ficaram 2 meses no quartel da Escola Militar do Realengo, na Zona Oeste do Rio, em seguida foram para o exílio em Londres. A Música “Aquele Abraço” é um adeus ao Brasil e a ditadura militar, política que o artista não compactuava e foi obrigado a deixar o país por conta disso.   


A arte, por muitas vezes, pode ser utilizada para manter na memória coletiva acontecimentos marcantes como a ditadura, por meio de músicas e filmes. Para que ninguém se esqueça e que não se repita!


Escute a playlist com as músicas que marcaram a resistência artística desse período no Brasil   




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