O que motiva brasileiros a se aventurarem em terras estrangeiras?
- Ana Laura Padredi Bortoloto
- 30 de abr.
- 4 min de leitura
Atualizado: 8 de mai.
Mesmo com muitas dificuldades e preconceitos, em 2022, mais de 4 milhões de brasileiros moravam no exterior
Por Ana Laura Padredi, Sessão das 4 — Bauru, São Paulo
O cinema nacional tem sido muito comentado nos últimos tempos, por conta do vencedor do Oscar de Melhor Filme Internacional, Ainda Estou Aqui, grande sucesso de bilheteria e crítica, dirigido por Walter Salles. Da mesma forma, muitas produções brasileiras geram debates importantes para a sociedade, como é retratado no filme Terra Estrangeira, de 1995, dirigido também por Walter Salles e Daniela Thomas.
Muitos brasileiros no início da década de 1990, sentiam as incertezas econômicas causadas pelo governo de Fernando Collor de Melo, período pós ditadura. Com o desejo de mudar de vida e buscar por novas oportunidades, o personagem Paco (Fernando Alves Pinto) decide se aventurar em uma viagem para Lisboa, sentimento ainda presente no imaginário de muitos brasileiros atualmente. Segundo o Ministério das Relações, em 2022, 4,59 milhões de brasileiros moravam no exterior.
Os primeiros sinais da imigração na nossa sociedade foram as Grandes Navegações, que se iniciaram no século XV, com Portugal liderando as explorações marítimas com o objetivo de expandir seus territórios. O professor de história Thiago Duarte comenta quais são as influências para esses fluxos migratórios. “Dentre os principais fatores encontram-se motivações econômicas como a procura por melhores condições de vida; ou até mesmo em situação de instabilidade política em alguns países, como por exemplo o caso de grupos refugiados de seus países que buscam asilo em outras regiões distantes de conflito.”, explica.

Representação das Caravelas Portuguesas usadas nas Grandes Navegações
A busca por segurança e estabilidade se perpetuou, fazendo com que muitos brasileiros sintam que terão mais oportunidades em outros países, na Europa e América do Norte. Sendo os Estados Unidos (1,9 milhão) e Portugal (360 mil) os locais em que a comunidade brasileira é maior. Infelizmente, a realidade de muitos desses imigrantes é a incerteza da permanência no país que escolheram viver, por conta de muitas burocracias para regularização do visto e o preconceito por ser estrangeiro
O professor Thiago destaca qual é a importância de um bom sistema de acolhimento a imigrantes dentro de um país. “Atualmente é necessário enxergar a imigração e os imigrantes como uma forma de estender os direitos ao outro, uma vez que os imigrantes trazem a sua história, sua cultura e vivências para outro país. A partir deste momento é necessário entender que há um papel econômico a ser desempenhado para e por eles, uma vez que já foi comprovado que países que adotam políticas sociais em relação a imigrantes costumam desenvolver melhor a sua economia.”, finaliza.
No longa-metragem de 1995, os personagens brasileiros não têm as oportunidades que imaginavam, consequência da insatisfação dos nativos do país com a presença dos imigrantes. Esse tipo de preconceito está presente em muitos países da Europa, onde queixas de xenofobia cresceram 142% nos últimos anos. Giselle Seghese, de 51 anos, que mora em Portugal desde de outubro de 2021, relata sua experiência vivida no país europeu.

Nos Estado Unidos, a realidade atual de alguns imigrantes é de insegurança e medo, tendo a possibilidade de serem deportados para seu país de origem a qualquer momento. Segundo a matéria da BBC, o presidente Donald Trump propôs em sua campanha eleitoral realizar a maior operação de deportação da história, a prioridade são aqueles com antecedentes criminais. Tendo como objetivo atingir 1 milhão de pessoas a serem deportadas. Em março, o governo anunciou que iria revogar o status legal de mais de 500 mil imigrantes que entraram legalmente no país, por meio do programa lançado pelo ex-presidente Joe Biden em 2022.
O diplomata Durval Luiz destaca qual o intuito da campanha do atual presidente.“A campanha de deportação do presidente Trump tem como foco os chamados imigrantes ilegais, e especial latinos, negros e árabes, que seriam uma ameaça à segurança dos EUA.”, afirma. Em 2018, a Assembleia Geral da ONU adotou o Pacto Global para Migração, que estabeleceu critérios para a gestão de fluxo migratório. Porém, cada país possui autoridade para tratar como preferir das questões migratórias em seu território.
Historicamente, os Estados Unidos foram constituídos e se desenvolveram com a ajuda de mão de obra de pessoas imigrantes. Durval destaca esse ponto na história americana, e como isso reflete no discurso feito pelo presidente Trump.“Eles sempre se orgulharam de ser uma nação de imigrantes, um novo mundo onde todos poderiam florescer. Mas é preciso recordar que os imigrantes aqui considerados, os ‘todos (que) poderiam florescer’, são os brancos, europeus. Não há imagem dos EUA como nação de imigrantes que inclua os negros, os latinos, os árabes ou os asiáticos como contribuintes para a formação daquele país. A questão do combate à migração no discurso do presidente Trump está diretamente relacionada com uma preocupação com uma eventual perda da “identidade americana” dos EUA.”, finaliza.
O engenheiro, Rodrigo Leme Sarzi Sartori, de 44 anos, se mudou para os Estados Unidos em 2015 por conta de uma proposta de trabalho. Atualmente, ele e sua família vivem legalmente. O brasileiro relata como tem sido a experiência de viver em outro país.
Para se aprofundar no atual cenário de imigração nos Estados Unidos, recomendo o episódio lançado no começo do ano “Donald Trump e a migração” do podcast Petit Journal, feito pelo professor e comentarista Daniel Sousa e pelo professor de política internacional e mestre em relações internacionais Tanguy Baghdadi.
Kommentare