“Ainda Estou Aqui” além das bilheterias
- Giovana Bravin da Rosa
- 20 de mar.
- 3 min de leitura
Atualizado: 9 de mai.
Filme reacende interesse pelo cinema nacional e destaca o papel do audiovisual como expressão cultural brasileira
Por Giovana Bravin, Sessão das 4 — Bauru, São Paulo
O sucesso do vencedor do Oscar na categoria melhor filme internacional, Ainda Estou Aqui, do diretor Walter Salles, tem levado cada vez mais pessoas aos cinemas brasileiros com a intenção de prestigiar obras nacionais.
Segundo a Agência Nacional de Cinema (Ancine), o longa estimulou as pessoas a assistirem a outras produções do país. No mês de fevereiro deste ano, 32,7% das pessoas que assistiram a um filme nos cinemas, viram uma obra brasileira. A título de comparação, em todo o ano de 2024, apenas 10,1% do público nos cinemas assistiu a um filme nacional.
Mas não para por aí. Desde a estreia no Brasil, em setembro de 2024, “Ainda Estou Aqui” tem apresentado grandes números. Com a vitória de Fernanda Torres como melhor atriz em filme de drama no Globo de Ouro, as indicações ao Oscar e a subsequente vitória na categoria melhor filme internacional na principal premiação do cinema, os números saltaram. De acordo com a Ancine, foi registrado um aumento considerável do público nas salas que passavam o longa: de 122% após o Globo de Ouro e de 89% após a divulgação das indicações ao Oscar.
Para a produtora e especialista em eventos culturais Raica Spedo, este aumento histórico na audiência de filmes nacionais tem tudo para ter impactos muito positivos na manutenção do cinema como cultura brasileira. “Quanto mais pessoas assistirem a filmes brasileiros, melhor pro nosso mercado audiovisual. Vai ser possível investir em histórias que sejam nossas e incentivar as novas gerações a também fazerem cinema e cultura”.
De acordo com Raica, o cinema nacional pode ajudar na formação de um pensamento crítico perante temas sociais relevantes, principalmente com crianças e adolescentes. “A arte pode ensinar muito. Quando assistimos a filmes com assuntos importantes, temos que refletir, questionar. Apresentar essa possibilidade a crianças, adolescentes e jovens ajuda a formar um olhar crítico. Isso é muito importante”, ressalta.
Raica destaca que é necessário continuar a valorizar a produção audiovisual brasileira quando o momento de “Ainda Estou Aqui” passar. “O investimento tem que continuar, principalmente para produtores menores ou independentes. O Brasil continua produzindo e nós temos que continuar consumindo”.

A professora de arte Maria José Galdino Bussi trabalha o assunto do cinema nacional frequentemente com seus alunos. Para ela, o cinema representa uma forma de expressão cultural, um mundo real e imaginário, que pode levar a emoções, sensações ou imaginações. “A produção audiovisual contribui com o intuito de promover uma alfabetização visual aos estudantes. Em relação ao cinema nacional, que tem um grande significado na cultura do país, ele também tem a capacidade de fazer refletir”.
Maria José destaca como a produção audiovisual, assim como outras formas de arte, pode ser interpretativa e pessoal. “Os filmes, às vezes, podem afetar as pessoas de maneiras diferentes, principalmente se consideradas as diversas questões da realidade em que vivemos”. Sobre o sucesso de “Ainda Estou Aqui” e da atenção que o cinema nacional vem recebendo, Maria José acredita que o filme tenha despertado nas pessoas um sentimento de patriotismo, já que a obra retrata uma família brasileira comum. “Se aproximou muito da realidade de muita gente. E relembrou fatos históricos que todos já viram ou ainda vêem na escola”, afirma.

Maria José procura trabalhar em suas aulas a linguagem cinematográfica como uma forma de socialização e formação da humanidade. “É muito interessante estudar as primeiras imagens, que foram chamadas de fotogramas, as primeiras experiências, a técnica do stop motion, os primeiros filmes…”.
A professora de arte pontua que o cinema brasileiro pode carregar a mesma bagagem cultural e histórica que os primeiros registros do audiovisual. “Também são retratos da história do nosso país, da nossa cultura. O cinema reflete a sociedade e suas transformações. É muito importante trabalhar isso com as crianças, para que elas compreendam e tenham um olhar crítico para o mundo. Mas até depois de adulto, o cinema continua sendo uma forma de reflexão, aprendizado e entretenimento", finaliza.
Comments