Muito além do futebol: Uma história de paixão, resistência e identidade

Fundado por operários, o clube se tornou símbolo do povo, construindo uma das torcidas mais apaixonadas e influentes do Brasil. 

Ana Godoy, Sessão das 4, Bauru - São Paulo 

Às 2030, do dia 1º de setembro de 1910, à luz de um lampião, na esquina das ruas José Paulino e Cônego Martins, no bairro do Bom Retiro, o grupo de operários formado por Anselmo Corrêa, Antônio Pereira, Carlos Silva, Joaquim Ambrósio e Raphael Perrone fundaram o Sport Club Corinthians Paulista. Com mais oito rapazes, foi formada a reunião dos primeiros integrantes e sócios fundadores do Timão, que teve seu nome inspirado na equipe inglesa Corinthian Football Club, que fazia excursão pelo Brasil. 

Na Zona Leste de São Paulo, a multidão alvinegra toma conta das ruas a cada jogo do Timão. Apelidados de Fiel Torcida, eles mais do que acompanham o time, é uma religião, uma identidade coletiva, família de arquibancada e dessa forma, indo muito além do futebol. 

De acordo com estudo da TM20 Branding e Brazil Panels, divulgada pelo portal InfoMoney e CNN, a torcida do Corinthians é a segunda maior do Brasil com 19,4% dos torcedores, sendo a maior do estado de São Paulo e a nível Brasil, atrás apenas da torcida Rubro-Negra do Flamengo que possui 24,8%. 

A jornalista esportiva da ESPN, Mariana Spinelli fez um vídeo falando sobre as maiores torcidas do Brasil. 

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Segundo o professor de sociologia e história, Gabriel Zerlin, a torcida desempenha um papel fundamental na construção da identidade de seus torcedores.

Gabriel Zerlin, sociólogo

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Suor e arquibancada

A Neo Química Arena, casa do Corinthians desde a sua construção em maio de 2014, chegou a 30 jogos com presença superior a 40 mil torcedores, recorde absoluto no futebol paulista. Com mais de 30 mil torcedores na Arena, a Fiel possui 50 jogos em sequência, superando a marca. O Timão também possui o recorde do futebol brasileiro de jogos com mais de 20 mil pagantes em Itaquera.

José Manuel Idalgo/Agência Corinthians

Atualmente, a NQA já recebeu foi casa de 20 jogos do Corinthians, e já passaram mais de 868 mil pessoas e tem uma média de público de 43.417. 

A Arena Corinthians é a única a sediar eventos esportivos como, Copa do Mundo de 2014, Olimpíadas Rio 2016 e atualmente, jogos da NFL também são realizados em Itaquera. 

Nos dias atuais, a torcida lançou uma vaquinha para pagamento da amortização da dívida da construção da arena com a caixa. A campanha “Doe Arena” até o fechamento desta reportagem, arrecadou R$ 40.362.410,10. 

Torcida organizada e influência 

Parte importante da construção de um time são seus torcedores e a torcida organizada (TO). O Corinthians, é detentor de seis torcidas organizadas principais: Camisa 12, Pavilhão 9, Estopim da Fiel, Coringão Chopp, Fiel Macabra e, a maior delas, Gaviões da Fiel.

Fundada em 1969, a Gaviões é a maior do clube, atuando tanto nas arquibancadas quanto no Carnaval paulistano, onde também conquista títulos. Ao longo do tempo, a organizada se tornou um polo de cultura urbana e resistência das periferias.

Gaviões em pesquisa realizada em dezembro de 2023, continham 131 mil sócios e 12 sedes, sendo uma a sede social e outra no Japão. 

Zerlin, comenta sobre como a paixão a um clube de futebol pode influenciar a vida de seus torcedores. 

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Sociedade e política 

A Democracia Corinthiana surgiu na década de 1980. Ela foi um movimento ocorrido no início da década de 1980, que teve a luta pelo fim da ditadura militar no Brasil como uma das principais bandeiras. Sócrates do Timão participou da campanha pela volta do direito ao voto para presidente, o que não acontecia desde 1960. Muitos torcedores consideram o Doutor como o maior ídolo do time dentro e fora de campo. 

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“Doutor Sócrates tinha uma genialidade em campo fora do normal e uma liderança dentro e fora de campo, e fora o impacto que ele teve na Democracia do Brasil! Ele foi um dos pilares da Democracia Corinthiana, ele se preocupava muito com as questões sociais e políticas do país e usava o futebol para defender os seus valores”, conta Letícia Ferreira, torcedora do Corinthians.

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Gabriel fala como as torcidas podem ser vistas como forma de resistência social e política

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2012, o ano que o mundo ficou preto e branco 

Pela primeira vez na história, o Corinthians foi campeão da Libertadores - e de maneira invicta. O gol de cabeça Paulinho contra o Vasco, que levou o Corinthians às semifinais da Libertadores, é considerado por muitos o mais marcante da história do clube.

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Com a conquista da Libertadores, o Bando de Loucos invadiu o Japão para ver o time conquistar o segundo Mundial de Clubes da Fifa. Guerrero marcou de cabeça contra o Chelsea e garantiu o segundo Mundial. 

Reprodução: YouTube

Reprodução:YouTube

A Max lançou neste mês de maio, um documentário que mostra a invasão corinthiana no Japão para a conquista do Mundial de Clubes de 2012. 

Reprodução: YouTube Max

Segundo dados, cerca de 30 mil torcedores foram para o Japão apoiar o time. 

Muito mais que paixão 

Letícia Ferreira, torcedora do Corinthians, conta que começou a torcer para o time graças ao namorado de uma tia, mas que sua família tentou fazer ela torcer para o Cruzeiro e Palmeiras, maior rival do clube da Zona Leste. “Quando eu estava com 4 anos, meu primo tentava de tudo para me tornar cruzeirense, meu pai e meu tio, que são palmeirenses, seguiam na mesma. Minha tia começou a namorar um corinthiano roxo e ele começou a falar muito comigo sobre o time, da onde o Corinthians surgiu e foi amor à primeira vista, vi que eu não tinha nada a ver com o Cruzeiro, Flamengo e Palmeiras e sim pelo Corinthians e foi onde comecei a me interessar super pelo clube”. 

Para a torcedora, a torcida do Sport Club Corinthians Paulista é diferente por ser a única que apoia durante os 90 minutos dentro de campo. “A Fiel Torcida é a única que apoia 90 minutos, quando o time está perdendo é aí que canta cada vez mais forte, é lotar estádios nem que seja do outro lado do mundo, calar a torcida do adversário e não abandonar o time na fase ruim. Isso torna a torcida única”, enfatiza a torcedora alvinegra de Minas Gerais. 

Perguntada sobre o que significa ser corinthiana, Letícia disse que não sabe descrever e que pode ser considerada uma religião. “É inexplicável, ainda não soube achar um significado para o que é ser Corinthians eu vivo pelo clube, pode ser considerado uma religião, o primeiro amor, ser Corinthians vai além é um estado de espírito”, finaliza. 

Alicia Romera, torcedora do Time do Povo, conta que se tornou torcedora do Corinthians por conta do pai. “Mas foi quando ele me levou ao estádio do Pacaembu, no final do jogo, e fiquei fora vendo os torcedores - mesmo após o jogo, era uma loucura, uma paixão - eu quis fazer parte daquilo. Então, aos 8 anos, vi que realmente me apaixonei pelo time”. 

Para a corinthiana, o que destaca a torcida do Corinthians para outras é a dedicação. “A Fiel Torcida se destaca pela sua dedicação, energia e organização. Eles criam uma atmosfera incrível nos jogos e são conhecidos por sua lealdade ao time”, conta. 

“Ser corinthiano é uma paixão”, finaliza Alicia.